Espelho

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Olhei para mim mesma no espelho e falei:

Eu não estou mais brava.

Assumi que não sentia raiva, desprezo, nojo ou qualquer mágoa se quer.

Prometi não comparar ao que um dia foi e o que me restava agora.

Engoli a seco os sentimentos confusos que desciam pela garganta.

Simplesmente decidi não sentir e deixei as palavras saírem da minha boca com falsa sinceridade.

“Eu não estou mais brava”

Afirmei.

Afinal, como eu poderia? Como eu poderia sentir raiva daquilo que me faz ser quem eu sou?

Como posso odiar o que me faz respirar, caminhar e viver?

Como posso ter repulsa do meu próprio corpo?

Como?

Eu não sei,

mas acontece.

O espelho me entregou a dor e eu o entreguei mentiras.

Triste é que ele não se enfurece,

mas eu sim,

muito.